26 de agosto de 2010

Rock e Juventude

A idéia de juventude não é moderna, sua origem etimológica remete a Roma, quando os filhos dos nobres eram “príncipes da juventude”, no entanto, juventude como uma categoria social simbólica, que aponta para um recorte geracional, que é muito variado de acordo com o tempo e o espaço, classificado socialmente, provém da modernidade ocidental após a segunda metade do século XX.

“A novidade da década de 1950 foi que os jovens das classes alta e média, pelo menos no mundo anglo-saxônico, que cada vez mais dava a tônica global, começaram a aceitar a música, as roupas e até a linguagem das classes baixas urbanas, ou o que tomavam por tais, como seu modelo. O Rock foi o exemplo mais espantosos. Em meados da década de 1950, subitamente irrompeu do gueto de catálogos de “Raça”ou “Rhythm and Blues” das gravadoras americanas, dirigidos aos negros pobres dos EUA, para tornar-se o idioma universal dos jovens, e notadamente dos jovens brancos.”

Eric Hobsbawm _ A Era dos Extremos, o breve século XX, 1914-1991 (cap. 11, Revolução Cultural)
Por que o Rock? Porque é ele que melhor traduz as idéias da juventude, da nossa e daquela época, por isso que enquanto existir os jovens o rock vai sempre estar presente, nas suas mais diversas formas. Cada vez mais a juventude se estende, mesmo quando não se é mais jovem segundo a classificação biológica*, preserva-se o estado de espírito, “quero ser jovem para sempre”, que vem da concepção cultural sobre a juventude, que está ligada a faixa-etária quando pensado como nicho de mercado, mas que no universo simbólico se materializa em diversos sistemas de representação, como, roupas, praticas esportivas, música, alimentação, etc. tendo como elemento central aqui o consumo.

Quando eu vejo a molecada com a camisa do Iron Maiden eu penso “Esses caras já estão velhos, eles tem mais tempo de banda do que eu de vida, mas cara, eu me identifico” e esses meninos e meninas também, isso trás uma renovação que deve funcionar como elixir da juventude pra esses caras, que embora não sejam mais jovens, têm o poder de emanar esse espírito. É aquilo, dizem que a música é atemporal, e pensando nesse sentido ela é mesmo, esses caras todos vão morrer um dia (e vão para o olimpo), mas a música vai ficar.

*14-18_adolescência, 18-24_juventude (variando entre 15-24, 18-30), escala adotada pelo Ministério da Saúde, ONU e ECA.

PS. Agradecimentos especialíssimos a professora Ana Lúcia Enne, que este semestre está ministrando a cadeira de Mídia e Juventude, dentro do curso de Estudos de Mídia na UFF e de quem eu sou aluna e super fã.

Natália R. Ribeiro
 

17 de agosto de 2010

New tags.



Está cada vez mais complicado determinarmos o som que cada banda toca, “tags” como Rock, Heavy Metal e Hardcore, não dão mais conta de caracterizarem sozinhas novas sonoridades.


Heavy Metal... Heavy Metal o que? Heavy Metal Melódico, Heavy Metal Sinfônico, Heavy Metal Clássico, Thrash Metal, Death Metal, Metal Extremo, Black Metal, Gotic Metal, New Metal... Hardcore ou Metalcore, Deathcore, Grindcore (...)?

Mesmo essas que foram citadas estão sendo muitas vezes usadas em conjunto com outras na tentativa de aproximação do estilo com o som, por exemplo: Black Metal Sinfônico.

Algumas possíveis mudanças que nos levaram e esse novo cenário:

• Inclusão de novos elementos, tanto tecnológicos como estilísticos, que antes não eram possíveis e/ou viáveis;

• Maior acesso aos meios de produção e circulação por parte das bandas, vide softwares de “home studio” e redes sociais como o MySpace e You Tube;

• Relativa abertura na mídia para estilos mais pesados. Disseminação de veículos especializados;

• O interesse mercadológico em novos nichos de mercado, quando “taguear” é preciso para apresentar o produto ao consumidor;

Uma das tendências é a montagem de perfis a partir do cruzamento entre tags pessoais, é um sistema complicado e que nem sempre acerta, mas vem sendo aperfeiçoado, essa é a lógica de sites como a Last.fm.

É como se eu te indicasse um álbum do Obituary, um do Deicide e um do Morbid Angel se você me diz que gosta do Cannibal Corpse.

Curioso não?

(continua...)

Natália Ribeiro


11 de agosto de 2010

A dificuldade de se definir “Underground”

O Blog Rockalogy está às vésperas de completar seu primeiro ano na rede, em diversos posts eu fiz tentativas de, ao menos, delinear o que seria o underground hoje. Mas conforme meus estudos e minhas pesquisas vão avançando essa definição parece ficar cada vez mais distante. Na verdade os conceitos, tanto de mainstream, quanto de underground, parecem não darem mais conta de definir determinados campos de produção e consumo musicais. É como eu disse em post anteriores, o underground está cada vez mais mainstream e o mainstream cada vez mais underground, de modo que já é muito difícil por um em oposição ao outro. Como explicar bandas como o Cannibal Corpse? Eles são underground ou são mainstream?

Se por um lado a banda não é underground, porque possui um grande número de fãs, têm reconhecimento mundial, tem uma gravadora, fazem turnês, e etc. Por outro também não são mainstream, o show deles não lota e eles não possuem saída na mídia que não seja a especializada. O cenário atual seria um “meio termo”, não há nome para isso, nem ao menos uma configuração, algo que possamos denominar, o que nos resta no momento é usarmos esses mesmos conceitos, porém sempre com muitas ressalvas.

“Subcultura” e “Nicho” são conceitos que começam a parecer com freqüência nas discussões e de fato parecem estar dando mais vazão numa explanação a cerca do cenário atual. Subcultura está mais ligado a um panorama mais sociocultural, e nicho mais a aspectos mercadológicos, uma subcultura é um nicho, um nicho mercadológico. Bonequinhos do Kiss, para fãs do Kiss, caveirinhas fofinhas para emos... Novo disco do Cannibal para fãs do Cannibal, que não chegam a lotar um estádio, mas estão ali, mais ou menos isso.

(continua...)

Natália Ribeiro

4 de agosto de 2010

Investindo na produção



A banda Hatepride encontra-se em processo de produção de suas novas músicas, é como produção foi o assunto dos nossos últimos posts, nada mais justo do que usarmos um exemplo bem claro.

Como todos que acompanham o blog já estão cansados de saber, o Hatepride é uma banda underground do Rio de Janeiro que tem pouco mais de dois anos. Eles já têm vídeo clipe oficial e quatro músicas disponíveis em seu MySpace e agora estão preparando mais músicas para, quem sabe, lançarem um álbum.

Algumas bandas se destacam no underground por seu tempo de estrada, outras por seu ritmo de atividades. Atividade requer esforço, e esse esforço na maioria das vezes vem em forma de investimentos.

Uma visão mais estereotipada do underground que gosta de dizer “... estão se vendendo!”, ou “Isso não é underground”, mas afinal de contas, o que seria underground então para essas pessoas? Será que para eles o underground é estar fadado a mediocridade? Essa é uma visão antiga, de quando os meios de produção eram, realmente, muito mais difíceis de serem custeados, as bandas não lançavam seu disco por conta própria, elas tinham que ter uma gravadora, e ter uma gravadora há uns 20,30 anos atrás não era para banda underground.

Mas hoje, o acesso é muito mais fácil, rápido e barato, então gravar um CD por si só, na realidade, não quer dizer muita coisa, quem, como, e quando, isso sim, vai fazer a diferença. Qualquer um com alguma sensibilidade sabe diferenciar um álbum gravado em estúdio, de uma demo gravada na garagem.

O ambiente está muito mais competitivo o que não quer dizer que as bandas devam sair no braço uma com as outras, conforme alguns pensam, isso, na verdade, levou as bandas a se “profissionalizarem” cada vez mais; a não ser que façam isso por hobby, sempre é esperado um retorno por todo esse investimento.

Natália Ribeiro