26 de novembro de 2011

Quanto Vale a Música? "Grátis"

Sniffin' Glue, famoso fanzine fundado em 1976, mais em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Sniffin%27_Glue
Fico imaginando o quão difícil é para uma geração que nasceu após a década de 80, entender que em um determinando momento da história era preciso pagar para ouvir música. Talvez para essa geração um CD seja mais um objeto de culto, como um poster, do que uma mídia de reprodução sonora. 
Antes da digitalização da música e da web 2.0, do formato MP3 e dos sites de compartilhamento, a música circulava por fitas K7, o que representara uma revolução. Antes da fita K7, lançada oficialmente em 1963, popularizada na década de 70, e largamente utilizada até a década de 90, a única opção era o rádio, os discos ou ao vivo.

Para entender melhor o que acontece com o mercado da música na atualidade é importante desnaturalizar a ideia de que a música é, ou sempre foi grátis e também se pensar nas implicações do "grátis" sobre ela.

O início

No final da década de 30 as transmissões de música pelo rádio eram feitas no formato ao vivo, os músicos e os compositores eram pagos por apresentação. Mas como as apresentações eram recebidas por milhares de pessoas, muito mais do que caberiam numa casa de espetáculos numa única apresentação, a ASCAP, American Society of Composers, Authors and Publishers, passou a querer cobrar de 3% à 5% em direitos autorais sobre o faturamento publicitário bruto da emissora de rádio.

As emissoras de rádio decidiram então extinguir totalmente as apresentações ao vivo e passaram a tocar apenas discos nas suas transmissões.

Em resposta a ASCAP convenceu seus membros mais importantes, como Bing Crosby*, a pararem de gravar discos, isso após 1940 quando a Suprema Corte decretou que as estações de rádio podiam reproduzir o disco caso o comprasse.

Com uma oferta cada vez menor de músicas novas para tocar e um pagamento de direitos autorais que as levaria a falência, as emissoras reagiram organizando o próprio orgão de direitos autorais, a BMI, Broadcast Music Incorporated.

A BMI passou a atrair então uma série de artistas do rhythm-and-blues, country, western e músicos regionais, que normalmente eram desprezados pela ASCAP. Em troca de uma maior exposição esse artistas menos populares permitiam que as estações de rádio tocassem sua música gratuitamente.

Com isso o  rádio passa a ser considerado o principal canal de marketing para os artistas, que com uma maior exposição passariam a ganhar mais dinheiro com discos e shows.

“Em vez de acabar com o negócio da música, como a ASCAP temia, o Grátis ajudou a indústria musical a crescer e prosperar significativamente” (ANDERSON, 2009, p.45)

Atualmente com a digitalização da música e os sites de compartilhamento a venda de discos baixou consideravelmente, porém a ideia do grátis como marketing persiste e como Anderson aponta no texto, as gravadoras continuam sendo contrárias ou resistindo de alguma forma.

No underground a distribuição de música gratuitamente possui raízes históricas, primeiramente com as trocas de fitas K7 no final da década de 70, com o movimento Punk, permanecendo até hoje com a troca de músicas online no formato MP3.



* Considerado um dos maiores cantores populares do século XX na década de 30.

Por Natália R. Ribeiro

Referência bibliográfica: 
ANDERSON, Chris.Free: grátis: o futuro dos preços. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009. 


21 de novembro de 2011

Entrevista: Dick Siebert (Korzus) fala dos 28 anos da banda e sobre o Heavy Metal no Brasil

Entrevista concedida ao webcanal Arquivo Underground (http://www.youtube.com/user/arquivounderground), publicada em 17/11. Registro importante para a cena Metal nacional.

" O Heavy Metal esta no seu melhor momento", " Metal no Brasil não é fácil não, só sobrevive quem é cascudo", "A gente vive do Heavy Metal, nosso estilo de vida é o nosso trablho."
Confiram

17 de novembro de 2011

Documentário "Profissão: Músico"_comentado



O documentário trata da dificuldade de se sobreviver de música num tempo em que não precisamos pagar pra consumi-la. Com a internet, os softwares e os sites de compartilhamento podemos baixar praticamente tudo no que diz respeito a bens culturais, como livros, séries, filmes e músicas. Se conseguimos isso de graça então por que pagar por isso?

O problema é que existe um custo para a produção, e não estou tocando aqui nem na questão da crise da indústria fonográfica, falo dos artistas e bandas independentes mesmo. O custo para ser produzir um material de qualidade é considerável, quando não é investimento de dinheiro diretamente, ha todo o tempo e o trabalho investido pelas pessoas que estão envolvidas, e esses custos não encontram retorno quando a música é baixada.

Vejo como um grande esforço jogado fora a tentativa das grandes gravadoras de restringir os downloads e de caçar os culpados, o que deve ser feito é uma readaptação ao mercado. Com o espaço disponível na rede os artistas passaram também a poderem mostrar seu trabalho para o mundo, sem o intermédio da indústria. Hoje qualquer um pode fazer uso disso, se lançar.

Com tanto material na rede, com o excesso, cada vez mais filtros são necessários, no caso dos artistas independentes a sua base de fãs será construída no boca-a-boca, seja on-line, seja de amigo em amigo, e é claro tocando. O conhecimento da cena e do público com o qual está dialogando é essencial nesse sentido.

Se o artista/banda não ganha dinheiro vendendo CD ele ganha nos shows, na venda de merchandising, ou em outras atividades, mas mesmo assim o CD continua importante, pois é importante que ele tenha o registro do seu trabalho, que tenha como mostrar as suas músicas. CD que eu digo nesse caso é o álbum como um coleção de faixas que não necessária mente se complementam como uma narrativa ou pertençam a uma mesma “leva criativa” do grupo.

Eu acredito que tenha muita banda de qualidade circulando pelos meios independentes e underground, mas que elas dependem ainda de uma lógica midiática para poderem acontecer. O musico nessas periferias ainda não é valorizado e a sua música custa a ser ouvida, mas cada vez mais o próprio meio vem se organizando para providenciar isso. Prefiro pensar dessa maneira.

Como estou há um certo tempo pesquisando e de certa forma envolvida com o cenário underground de música pesada, tenho contato com ótimas bandas diariamente, mas não sei dizer se pessoas menos engajadas, por assim dizer, teriam as mesmas possibilidades de contato com esse material que eu tenho. Vejo bandas excelentes, essas bandas na maior parte das vezes nem se quer almejam um contrato com uma grande gravadora, pois sabem que sua proposta não seria compreendida, é imprescindível conhecer o público com o qual se está dialogando.

Por conta da dificuldade de encontrarem apoio, essas bandas quando muito, procuram selos especializados para que seu material seja de alguma forma veiculado em formato de CD, normalmente elas lançam EPs online que ficam disponíveis para a audição em streaming e assim o público tem acesso a seus materiais. O produto de fato é a banda, a experiência do show, e não o CD propriamente dito, embora este ainda seja de grande importância como registro para a banda, tem também as camisas e outros itens personalizados que contribuem na arrecadação.


Natália R. Ribeiro

Assista em:

11 de novembro de 2011

Projeto Documentário “Espanke 90”, entrevista com Alex Dusky, diretor


Espanke 90 from Fabiano Silva on Vimeo.

O blog Rockalogy conversou com Alex Dusky, produtor, diretor, roteirista e ex-vocalista da banda Sex Noise, sobre o lançamento do projeto “Espanke 90”, que tem a idéia de funcionar como um documentário e um registro musical por meio da reunião de 14 bandas do cenário underground dos anos 90, são elas:
Funk Fuckers, Second Come, Dash, Zumbi Do Mato, Sex Noise, Gangrena Gasosa, Djangos, Piu Piu e sua Banda, Beach Lizards, Barneys, Cabeça, Anarchy Solid Sound, Poindexter e Soutien Xiita.


De onde surgiu a ideia de fazer o documentário? Por que “Espanke 90”?


A idéia surgiu após reunir o lançamento de dois livros: “Esporro” de Leonardo Panço e “Memórias não póstumas de um punk” de Larry Antha; Um de forma jornalística e outro meio autobiográfico contando esse mundo do rock carioca nos anos 90. Essa cena era efervescente, com dezenas de bandas surgindo pela cidade, dos mais diferentes estilos e quase todas tocando juntas. Você tinha no mesmo palco: Metal, alternativo, punk...

Mas, mesmo com discos gravados, não existem muitos registros ou gravações desses shows e encontros. Já havia uma conversa entre eu e o Leonardo Panço em transformar o livro dele em documentário, aí foi juntar as bandas e desenvolver o projeto. O mais legal é o inédito de conseguir juntar essas bandas, que marcaram o rock carioca, e saber que teremos pra sempre como assistir e ouvir o que todos tem pra dizer e em HD. As bandas são: Anarchy Solid Sound, Barneys, Beach Lizards, Cabeça, Dash, Djangos, Funk Fuckers, Gangrena Gasosa, Piu-Piu e Sua Banda, Poindexter, Second Come, Sex Noise, Soutien Xiita e Zumbi do Mato; Será um DVD com show ao vivo e entrevistas.

Por que o crowdfunding como forma de viabilização? Você poderia citar algum exemplo de projeto nessa linha que já tenha sido realizado?

O crowdfunding é uma ótima ferramenta para projetos culturais (quem dera existisse algo assim nos anos 90... quem dera existisse internet nos anos 90... marcávamos shows por telefone ou telegrama). No crowdfounding o fã pode ajudar diretamente seus artistas, sem passar por empresas, empresários, contribuindo com o valor que puder e recebendo uma contra partida. Você não doa dinheiro, você recebe algo por sua contribuição e ainda ajuda sua banda favorita.

O Mombojó financiou o projeto do show de 15 anos da banda em recife. Autoramas usou o crowdfounding para gravar seu mais novo CD.

Quem pode colaborar e como fazer isso? Há algum risco para os colaboradores caso o projeto não atinja a meta de realização?

Para colaborar é só entrar no site do projeto e escolher o valor e seguir as instruções do site, fazer cadastro e tal... (http://www.embolacha.com.br/projeto/130-espanke-90). A contribuição pode ser de qualquer valor. O projeto só vai pra frente se o valor total for arrecadado, se não bater a meta a grana de todo mundo que colaborou nem é descontada no cartão... Ninguém perde seu dinheiro. E no caso de alcançarmos a meta, 100% do valor, todos receberão as recompensas de acordo com a colaboração feita, isso a gente garante! Palavra de quem está na estrada desde 1990 fazendo música e agora cinema.

Valeu aí por apoiar essa empreitada para registrar uma cena do rock carioca que ficou com pouquíssimo material, principalmente audiovisual.

Agradeço a sua entrevista e aproveito o espaço para convidar a todos a fazerem  parte deste projeto, que uma vez realizado, servirá como registro histórico e documental da cena underground carioca e também nacional.

Parabéns pela iniciativa de vocês, estamos aqui na torcida. Obrigada.

Participe

8 de novembro de 2011

Morte da Cena - Matéria Comentada


A morte da cena entra em debate mais uma vez, agora com um vídeo com declarações polêmicas do vocalista Edu Falaschi (Almah / Angra), ao web programa Rock Express. O vídeo postado em 7 de novembro, foi gravado no contexto do evento “Dia do Metal” realizado em São Paulo no dia anterior ( 6/11/11).

A “morte da cena” já vem sendo alardeada ha um tempo, tanto por bandas quanto por produtores que dizem levar prejuízo atrás de prejuízo. O público vem sempre como culpado, como aquele que não vai ao show, não compra o CD, o merchandising e, portanto, não colabora para a cena.

No vídeo Edu Falaschi menciona a falta de público nos eventos com bandas nacionais, e os estádios lotados em casos de bandas mainstream “gringas”. Ou seja, não é que de fato exista uma falta de fãs de Heavy Metal, o que está faltando é o apoio às bandas e aos eventos que acontecem fora do contexto mainstream, ou seja, à cena underground.

Acho errado obrigar o fã a ir a evento, a comprar CD, ninguém deve ser forçado a nada, ainda mais no Rock, a pessoa tem que ir e adquirir o material por vontade própria. O underground em algum momento ficou marcado no senso comum como um espaço de exclusão, o que está muito longe de ser verdade. Cada vez mais o underground se faz presente, é a fonte aonde o mainstream vem beber quando precisa de algo realmente criativo e talentoso.

Estar inserido na cena underground requer o mínimo de engajamento, seja interagindo com a “galera rock” da sua localidade, trocando idéias, indo a eventos etc. isso está ligado à idéia de se desenvolver uma opinião própria, baseado na cena na qual interage e o grupo no qual está envolvido, e não apenas reproduzir um discurso dado pela grande mídia/mídia especializada e pelo censo comum.

Vale lembrar aqui que bandas como Metallica, Iron Maiden, AC/DC, surgiram no underground, caso não houvesse um produtor perspicaz e toda uma indústria por trás eles bem que poderia ter continuado por lá. Hoje os tempos são outros, fato; a internet não existia, para o bem ou para o mal, não quero entrar no mérito dessa questão agora, mas isso não diminui o fato de que eles, num primeiro momento, só foram possíveis, por conta de uma cena underground em torno do Metal.

Quantos Metallicas, Iron Maindens, Sepulturas, Slayes não temos hoje no underground e poucos são capazes de notar? Acho que essa capacidade de reconhecer um som de qualidade quando ouve um é que diferencia um verdadeiro fã de Metal, daquele que apenas reproduz essa imagem.

Natália R. Ribeiro

Público de 300 pessoas

Morte da Cena, declaração polêmica de Edu Falaschi

1 de novembro de 2011

Em Cena - Evento "Ostras Rock"


O blog Rockalogy esteve presente neste evento que aconteceu de forma aberta, em praça pública e com uma das paisagens mais bonitas que já vi ao fundo. Nada de pop, axé, funk ou sertanejo, nada contra outros gêneros musicais, mas o que ecoou naquela paisagem "praieira"  foi música pesada! Rock da maior qualidade. 

Isso mostra que não precisamos estar subjugados apenas ao caos e cavernas no meio das cidades, áreas  sombrias de difícil acesso, o underground pode ocupar a cidade, o espaço urbano, também. E como toda cultura jovem, não só pode como deve fazê-lo. 

Eu não vi só headbangers no local, vi pessoas que passavam curiosas e acabavam ficando, vi pessoas mais velhas, vi crianças, vi casais, vi muitos tipos que certamente não veria se o evento fosse totalmente fechado, e todos curtindo o show; é interessante pensar no quanto isso vem a agregar a cena local e regional. 

Parabéns à organização e às bandas pelo excelente trabalho de todas.

Evento: Ostras Rock
29 de Outubro de 2011
Concha Acustica - Praça São Pedro
Rio das Ostras/RJ


*Quem abriu o evento foi a banda Tio Juka de Rio das Ostas, mas infelizmente até o momento não tenho nenhum vídeo disponível de sua apresentação no evento.