Resenha do artigo: “Rádio musical e concessão pública: uma reflexão a partir de duas emissoras ‘roqueiras’” de Heitor da Luz Silva (UFF)
Artigo publicado em: Revista Fronteiras – estudos midiáticos X(3): 163-172, set/dez 2008
Tanto a Rádio Cidade quando a Fluminense FM, tinham como sede a cidade do Rio de Janeiro e suas áreas de abrangência correspondiam ao Grande Rio, embora, com alguma dificuldade, também pudessem ser ouvidas em alguns lugares fora dessa região. Ambas optaram pela segmentação em um gênero específico, o Rock. No entanto, enquanto a Fluminense FM apostava em uma programação mais alternativa, à parte do mainstream, a Rádio Cidade apostava numa programação mais pop, a serviço das gravadoras.
Enquanto uma buscava ser reconhecida por seu trabalho de divulgação de músicas que atenderiam a vontade seu público, a outra buscava o público em quantidade que atendesse às suas necessidades e interesses. Claramente, a Fluminense optava por capitalizar-se simbolicamente, construindo uma base forte de público e sendo fiel a ele e a Cidade buscava mais audiência apelando para músicas mais Pops, tencionando a idéia de “Rádio Rock”.
Essas rádios existiram em momentos distintos, a Fluminense FM “A Maldita”, nos anos oitenta (no ar até 1994), e a Rádio Cidade “A Rádio Rock”, no início deste século (no ar até 2006), embora com interesses distintos ambas foram importantes para a formação de um público roqueiro e funcionavam como porta de entrada para muita gente para o gênero. Era um veículo de massa com uma programação voltada “exclusivamente” (ou pretendiam que assim se acreditasse) para o rock.
Frutos de concessões públicas do Estado, que apesar de controlar a quantidade de freqüências disponíveis, pouco ou nada interfere na mediação de interesses entre possíveis demandas da sociedade e as emissoras. Logo, estavam sujeita a interesses econômicos e particulares. Ou seja, o jabá poderia ser cobrado dependendo da vontade da rádio, mesmo que isso representasse interesses puramente comerciais.
“Para conquistar e manter tal autonomia, a Fluminense precisou compor sua receita apenas com o dinheiro dos anúncios publicitários, ao contrário da Cidade Rock, que dependia do apoio econômico das gravadoras.”
Não à toa a época do auge do rock na Maldita não durou muito, depois de algum tempo antes que saísse do ar, houve uma tentativa para uma variação maior de sua programação, já a Cidade esteve um período maior na ativa. É claro que dessa discussão não se pode excluir o fator histórico/social, foram épocas diferentes, no entanto, a opção por uma programação mais fiel ao rock sempre foi possível.
Segundo o autor, “o direito à liberdade de expressão, nesse caso, vai estar diretamente relacionado, portanto, à idéia de liberdade de mercado.”, que neste caso é controlada por “interesses mercadológicos, culturais e afetivos nos produtos veiculados por cada uma das emissoras.”. Uma das maiores críticas presente no texto é a de que se o Estado estivesse mais presente, não só cedendo o espectro sonoro, poderia impedir que um espaço de tal importância fosse tomado por interesses puramente econômicos.
“O fato de o veículo ser uma concessão pública faz com que ele seja potencialmente um agente estratégico para os processos de produção, circulação e consumo de música, impedindo a concentração de agentes que hegemonizem o mercado de uma maneira mais próxima do absoluto e imponham suas vontades através de força econômica, determinando quais artistas terão ou não acesso ao espaço da rádio por meio do ‘jabá’.” (SILVA, H. da L p.171)
Hoje o rádio perdeu parte considerável de sua audiência mas continua com seu poder de propagação, tocar na rádio ainda é algo bastante relevante, mas se a banda não pode, ou se recusa a pagar o jabá tem a internet e a possibilidade da banda “correr por fora” produzindo e distribuindo seu material de forma independente.
Certamente as bandas que mais recorrem ao jabá são as que estão preocupadas com o número de público, seu sucesso depende de um investimento financeiro em espaços como rádios, TVs e revistas, já as bandas que procuram formar uma base sólida de fãs e galgar seu espaço por meio do reconhecimento e merecimento investem mais no capital simbólico.
Sucesso é algo relativo e pode ser conquistado de diferentes formas. Na opinião do autor e também na minha, a Fluminense FM teve um papel muito mais relevante para a cultura rock.
“Em razão de, como agente mercadológico, ter possibilitado uma circulação mais ampla da produção musical por conta de estratégias de distinção, como a do play list, é possível afirmar que a Fluminense teve um papel mais produtivo do que o exercido pela Rádio Cidade.” (SILVA, H. da L)
Por: Natália R Ribeiro
Artigo: http://www.unisinos.br/publicacoes_cientificas/images/stories/pdfs_fronteiras/vol10n3/163a172_art03_silva.pdf
Só uma correção. A Fluminense FM era sediada em Niterói, e a Rádio Cidade, embora situada no Rio de Janeiro, também tem outorga - espécie de "certidão de nascimento" da radiodifusão - na cidade do índio Arariboia.
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