27 de fevereiro de 2012

A disputa entre capital simbólico e capital comercial, “A Rádio Rock” X “A Maldita” como metáfora para o atual cenário do Rock



Resenha do artigo: “Rádio musical e concessão pública: uma reflexão a partir de duas emissoras ‘roqueiras’” de Heitor da Luz Silva (UFF)

Artigo publicado em: Revista Fronteiras – estudos midiáticos X(3): 163-172, set/dez 2008

Tanto a Rádio Cidade quando a Fluminense FM, tinham como sede a cidade do Rio de Janeiro e suas áreas de abrangência correspondiam ao Grande Rio, embora, com alguma dificuldade, também pudessem ser ouvidas em alguns lugares fora dessa região. Ambas optaram pela segmentação em um gênero específico, o Rock. No entanto, enquanto a Fluminense FM apostava em uma programação mais alternativa, à parte do mainstream, a Rádio Cidade apostava numa programação mais pop, a serviço das gravadoras.

Enquanto uma buscava ser reconhecida por seu trabalho de divulgação de músicas que atenderiam a vontade seu público, a outra buscava o público em quantidade que atendesse às suas necessidades e interesses. Claramente, a Fluminense optava por capitalizar-se simbolicamente, construindo uma base forte de público e sendo fiel a ele e a Cidade buscava mais audiência apelando para músicas mais Pops, tencionando a idéia de “Rádio Rock”.

Essas rádios existiram em momentos distintos, a Fluminense FM “A Maldita”, nos anos oitenta (no ar até 1994), e a Rádio Cidade “A Rádio Rock”, no início deste século (no ar até 2006), embora com interesses distintos ambas foram importantes para a formação de um público roqueiro e funcionavam como porta de entrada para muita gente para o gênero. Era um veículo de massa com uma programação voltada “exclusivamente” (ou pretendiam que assim se acreditasse) para o rock.

Frutos de concessões públicas do Estado, que apesar de controlar a quantidade de freqüências disponíveis, pouco ou nada interfere na mediação de interesses entre possíveis demandas da sociedade e as emissoras. Logo, estavam sujeita a interesses econômicos e particulares. Ou seja, o jabá poderia ser cobrado dependendo da vontade da rádio, mesmo que isso representasse interesses puramente comerciais.

Para conquistar e manter tal autonomia, a Fluminense precisou compor sua receita apenas com o dinheiro dos anúncios publicitários, ao contrário da Cidade Rock, que dependia do apoio econômico das gravadoras.”

Não à toa a época do auge do rock na Maldita não durou muito, depois de algum tempo antes que saísse do ar, houve uma tentativa para uma variação maior de sua programação, já a Cidade esteve um período maior na ativa. É claro que dessa discussão não se pode excluir o fator histórico/social, foram épocas diferentes, no entanto, a opção por uma programação mais fiel ao rock sempre foi possível.

Segundo o autor, “o direito à liberdade de expressão, nesse caso, vai estar diretamente relacionado, portanto, à idéia de liberdade de mercado.”, que neste caso é controlada por “interesses mercadológicos, culturais e afetivos nos produtos veiculados por cada uma das emissoras.”. Uma das maiores críticas presente no texto é a de que se o Estado estivesse mais presente, não só cedendo o espectro sonoro, poderia impedir que um espaço de tal importância fosse tomado por interesses puramente econômicos.

 “O fato de o veículo ser uma concessão pública faz com que ele seja potencialmente um agente estratégico para os processos de produção, circulação e consumo de música, impedindo a concentração de agentes que hegemonizem o mercado de uma maneira mais próxima do absoluto e imponham suas vontades através de força econômica, determinando quais artistas terão ou não acesso ao espaço da rádio por meio do ‘jabá’.” (SILVA, H. da L p.171)
Hoje o rádio perdeu parte considerável de sua audiência mas continua com seu poder de propagação, tocar na rádio ainda é algo bastante relevante, mas se a banda não pode, ou se recusa a pagar o jabá tem a internet e a possibilidade da banda “correr por fora” produzindo e distribuindo seu material de forma independente.

Certamente as bandas que mais recorrem ao jabá são as que estão preocupadas com o número de público, seu sucesso depende de um investimento financeiro em espaços como rádios, TVs e revistas, já as bandas que procuram formar uma base sólida de fãs e galgar seu espaço por meio do reconhecimento e merecimento investem mais no capital simbólico.

Sucesso é algo relativo e pode ser conquistado de diferentes formas. Na opinião do autor e também na minha, a Fluminense FM teve um papel muito mais relevante para a cultura rock.


Em razão de, como agente mercadológico, ter possibilitado uma circulação mais ampla da produção musical por conta de estratégias de distinção, como a do play list, é possível afirmar que a Fluminense teve um  papel mais produtivo do que o exercido pela Rádio Cidade.” (SILVA, H. da L)

Por: Natália R Ribeiro
Artigo: http://www.unisinos.br/publicacoes_cientificas/images/stories/pdfs_fronteiras/vol10n3/163a172_art03_silva.pdf

17 de fevereiro de 2012

Metal Lyric - "Evil" Mercyful Fate

As letras das músicas representam uma dimensão simbólica muito importante para um gênero musical. Como boa parte das letras são em inglês, isso acaba passando meio que despercebida entre os fãs que não tem muita afinidade com a língua inglesa e no Metal elas representam um universo a parte.

A letra que peguei hoje é da música "Evil" da banda Mercyfull Fate, que conta com os vocais de King Diamond, profundo conhecedor do ocultismo e outras coisas bizarras. Certamente se sua mãe conhecesse o teor dessas músicas o Metal não seria bem visto na sua casa.

Mercyfull Fate – "Evil"
Álbum “Melissa” 1983



Tradução*

"Mal"

Eu nasci no cemitério
Sob o signo da lua

Erguido da minha cova pelos mortos
Eu fui feito mercenário
Nas legiões do inferno
Agora eu sou o rei da dor, eu sou insano

Você sabe que meu único prazer
É ouvir você chorar
Eu adoraria te ouvir chorar

Eu adoraria sentir a sua morte
Eu seria o primeiro
A assistir seu funeral
E o último a sair
Eu adoraria ouvir você chorar

E quando você estiver abaixo do solo
Eu vou desenterrar seu corpo
E fazer amor para sua desgraça

Oh, senhorita chore, e diga adeus

Você deve dizer adeus
Porque irei devorar a sua mente.


Letra original

Todas as letras deste álbum são do King Diamond e todas as músicas de Hank Shermann.

I was born on the cemetery
Under the sign of the moon
Raised from my grave by the dead
I was made a mercenary
In the legions of hell
Now I'm king of pain, I'm insane

You know my only pleasure
Is to hear you cry
I'd love to hear you cry
I'd love to feel you die
And I'll be the first
To watch your funeral
And I'll be the last to leave
I'd love to hear you cry

And when you're down beyond the ground
I'll dig up your body again
And make love to shame
Oh lady cry, and say goodbye
Oh lady cry, and say goodbye

You've gotta say goodbye
'Cause I will eat your mind


*tradução livre
fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/Melissa_(Mercyful_Fate_album)

14 de fevereiro de 2012

Heavy Metal, a importância da experiência ao vivo


Começo esse post a partir da leitura do artigo “Pegue seu bilhete; compre pipoca e esteja pronto para bangear! A performance do Big Four transmitida em cinemas e novas experiências para headbangers” de Melina Aparecida dos Santos (UFF)* que trata da reconfiguração da experiência de assistir coletivamente a um show de heavy metal “ao vivo”, uma vez que se está numa sala de cinema e não em frente a um palco.

“Se é para ver tal artista no telão, prefiro comprar o DVD e assistir em casa” ou “nem preciso ir para ver o show, será transmitido ao vivo pela internet”, são argumentos comuns para aqueles que por preferência, ou por falta de oportunidade, deixam de lado a experiência ao vivo. Por mais que esses shows sejam transmitidos em tempo real (o que em alguns casos, como do Big Four, deixa de ser cumprido à risca) a forma como aquilo é absorvido é diferente.

Ver ao vivo um show de sua banda favorita da platéia é uma experiência única, você está rodeado de fãs. Tem sempre aquela expectativa do momento em que a banda subirá no palco, a excitação de quando eles aparecem pela primeira vez no palco, as pessoas cantando junto, o som ensurdecedor e você sente aquilo na pele. Apesar de em casa você conseguir ver todos os detalhes, não restará muito dessa sensação que se tem no show ao vivo.

A performance existe não só para os artistas que estão em cima do palco, mas também depende muito da platéia, do público, no heavy metal isso é bem claro. Espera-se que o público seja agitado, balancem as cabeças, façam os chifrinhos com as mãos, dependendo da agitação, que formem rodas, mosh pits e wall of death, em casa, ou no cinema, a performance por parte do expectador é um tanto contida, reprimida, não há a troca, “a comunicação” com a banda.

Assistir a um show da platéia, num cinema, em casa com os amigos, pelo computador, cada uma dessas possibilidades configuram uma experiência diferente, neste caso, podem haver mais, de quatro formas diferentes de presenciar um mesmo evento.



7 de fevereiro de 2012

Vídeo de lançamento do livro "Metal Brasileiro"


Alexandre de Orio - Lançamento do Livro Metal Brasileiro from Studio Kaiowas on Vimeo.

Guitarrista da banda Claustrofobia e do Quarteto de Guitarras Kroma acaba de lançar o
livro “Metal Brasileiro: Ritmos Brasileiros Aplicados na Guitarra Metal – Novos

Alexandre de Orio,  guitarrista da banda Claustrofobia e do Quarteto de Guitarras Kroma, autor do
livro “Metal Brasileiro: Ritmos Brasileiros Aplicados na Guitarra Metal", acaba de soltar um teaser na internet, e em clima de país tropical comenta sobre a ideia e os diversos estudos propostos no livro com trechos das gravações. Vale ressaltar os exemplos no vídeo em que Alexandre aparece tocando um riff de metal sobre uma levada de samba e em seguida o mesmo riff sobre uma levada de metal. Isto mostra o quanto podemos ir longe ao que diz respeito à criação e obter idéias utilizando este recurso, mas sem descaracterizar o metal. As levadas de samba foram gravadas pelo Lael Medina e as de meta lpelo Caio D´Angelo, baterista do Claustrofobia.

A capa do livro foi feita por Alex Spike, que também fez toda a arte do “Peste”, o novo
álbum do Claustrofobia.

Alexandre fala ainda da honra de contar com o prefácio de Andreas Kisser.

O teaser foi produzido pelo Studio Kaiowas, que há anos vem fazendo um ótimo trabalho com diversas bandas.

Confira também a entrevista exclusiva com o autor para o Rockalogy

4 de fevereiro de 2012

Filme: Airheads (Os Cabeças de Vento)



Airheads é uma comédia americana de 1994, escrita por Rich Wikes e dirigida por Michel Lehmann. O Filme conta a história de uma banda fracassada que invade uma estação de rádio para ter a sua demo tocada no ar.

Após várias tentativas sem sucesso de serem ouvidos por alguma gravadora, eles resolvem ir até a rádio  KPPX 103.6 ("Rebel Radio") para botarem a sua música para tocar ao vivo. A confusão começa quando Rex, o baixista resolve mostrar uma arma de brinquedo para intimidar o diretor.

Além de ser uma boa pedida para o final de semana, o filme tem participação especial de Lemmy Kilmester e Rob Zombie, e uma trilha sonora empolgante, o filme mostra como as gravadoras, as rádios e a mídia em geral lida com Rock.

(Parágrafo com spoilers) 
Chazz, o vocalista do "The Lone Rangers" ("Os Cavaleiros Solitários" em português) critica a postura da rádio, por que eles estavam tocando tanta porcaria? O vocalista se recusa a assinar um contrato ao saber que o dono da gravadora nem ao menos ouvira a música deles.

Mais a frente, mesmo com a sua liberdade e sua carreira em jogo, a banda se recusa a tocar com playback e convida a multidão que se formara em volta da rádio e do cerco policial, para invadir e quebrarem tudo.

O filme mostra que o Rock n Roll/Heavy Metal de verdade não se curva ao bussiness das grandes corporações, vale lembrar que estamos em 1994, o declínio quase que total destes gêneros nas rádios, revistas e mídia em geral. 

Fica a dica.

Trilha Sonora "Airheads"


2 de fevereiro de 2012

Metal com Samba - Entrevista com Alexandre de Orio (Claustrofobia e Quarteto de Guitarras Kroma)


Alexandre de Orio é guitarrista da banda Claustrofobia, conhecida de longa data na cena nacional e internacional, e do Quarteto de Guitarras Kroma. Bacharel em guitarra pela FAAM, Pós-Graduado em Estruturação e Linguagem Musical e Docência Superior em Música, está finalizando o primeiro Volume de uma Série intitulada “Metal Brasileiro – Ritmos Brasileiros aplicados na Guitarra Metal: Novos Caminhos para Riffs de Guitarra”.

O livro, que é acompanhado com um CD, em seu primeiro volume trará uma inusitada mistura de Metal com Samba. O blog Rockalogy conversou com o autor para saber de onde veio essa idéia, como fica essa mistura e como vão as atividades do Claustrofobia com o recém lançado álbum “Peste”. 

Rockalogy: Como músico, por que a escolha pelo Metal e como se deu a sua entrada para a banda Claustrofobia? 

Alexandre: Comecei tocando rock´n roll e aos poucos fui conhecendo bandas de metal e então, passei a curtir e tocar metal também. Você vai aprendendo a ouvir. Eu lembro até hoje, o primeiro contato que tive com bandas mais pesadas e que nessa primeira audição não curti tanto, mas aos poucos você se familiariza e como disse acima você aprende a ouvir. Somente mais tarde, pouco antes de entrar na faculdade de música que comecei a me interessar mais por outros gêneros e começar a estudá-los. Há muito tempo escuto de tudo, sem preconceito, e também já toquei desde Roda de Choro até Big Bands de jazz, mas o metal permanece na veia né!

Entrei na banda assim que eles mudaram para São Paulo porque o guitarrista anterior teve que deixar a banda. Tínhamos amigos em comum na época porque morávamos perto e então um amigo comentou de mim pra eles. Marcamos um dia para fazer um ensaio e conversar, desde então aqui estou. A banda estava no começo também. Começaram em 94 e entrei no começo de 96.

Rockalogy: O Metal é um gênero musical bastante ortodoxo, no entanto é na mistura com outros sons que novas vertentes vão tomando forma, é o caso do Thrash Metal, do Crossover e do Progressivo. O que o Samba pode adicionar ao Metal, sendo gêneros que aparentemente soam antagônicos? Normalmente que gosta de Metal não gosta de Samba e vice-versa.

Alexandre: Vou começar essa resposta resumindo uma epígrafe que coloquei no meu livro e que vale a pena, diz “...há várias tribos dividindo o terreno do rock barulhento e que nem todas se misturam, mas quando se misturam sempre sai coisa boa. Ainda fala “...ainda bem que existem os seguidores rebeldes que cada vez mais se levantam contra o estabelecido e o conservador, e mudam o que já está convencionado...”(Tom leão – Heavy metal:Guitarras em Fúria). Como o Andreas Kisser escreveu no final do prefácio “Crie música sem preconceito”.

Em relação à parte musical em si, o samba utiliza muita síncopa, o que não é característico da linguagem do metal. Isso traz pro metal um “sotaque” diferente. É importante deixar claro a forma de abordagem deste material. Não é simplesmente usar um batuque aqui ou ali e pronto, a idéia não é essa. O que busco é um tratamento especial nos riffs de guitarra utilizando como “pano de fundo” células rítmicas e levadas do samba. É um ótimo estudo para exercitar aquelas palhetadas triplas muito usada no Thrash Metal, por exemplo. Além disso, o livro ajuda no processo criativo de riffs, por estar utilizando esses outros elementos, por exemplo do samba, ele acaba te levando para outros caminhos, com outro “sotaque”.  Há vários exemplos no livro e poderá conferir também em alguns vídeos que tenho na internet, riffs que nasceram a partir de uma levada de samba e esse mesmo riff está gravado tanto com a condução de bateria em samba quanto em metal. Isto mostra o resultado que quero alcançar. Se eu não contasse pra ninguém de onde surgiram muitos desses riffs, não saberiam que foi inspirado ou construído a partir de uma levada de samba. Não quero fazer algo “caricaturesco” ou descaracterizar o metal é muito pelo contrário, é enriquecer ainda mais.

Rockalogy: O quanto dessa mistura os fãs vão encontrar no “Peste”, o novo trabalho do Claustrofobia?

Alexandre: Na verdade encontrarão o mesmo tanto como em outros discos do Claustro. Essa forma de tratamento dos riffs que disse na resposta anterior já tem nos discos anteriores, porém muita gente não sabia. A diferença mesmo do “Peste” é da faixa que gravamos com um grupo de samba de raiz chamado Batuque de Corda. Essa faixa soa como uma escola de samba acompanhada pelas palhetadas da guitarra e riffs de metal. A música chama “Nota 6.66” e que está no meu livro também.

Rockalogy: Você pensa em incluir outros ritmos a série “Metal Brasileiro – Ritmos Brasileiros aplicados na Guitarra Metal: Novos Caminhos para Riffs de Guitarra”?

Alexandre: Sim. Já tenho esboços, alguns riffs, idéias etc. Só tenho que ir com calma pra não atropelar as coisas. Além desses outros ritmos que incluirei nesta série, que é mais ligada a ritmos brasileiros, tenho outras idéias também para outros trabalhos voltado ao metal, mas é segredo...ahahaha!!

Rockalogy: Quando lançado, aonde vamos poder encontrar o livro?

Alexandre: Acabou de ser lançado, porém ainda negociarei a distribuição, ainda não sei exatamente como será. Mas a princípio ele será vendido no site oficial do livro que é www.metalbrasileiro.com ou também pode ser diretamente comigo, enviando um email para alexandredeorio@yahoo.com.br

No site, poderá conferir também alguns exemplos musicais contém no livro.
Esse ano haverá muitos shows por todo o Brasil com o Claustrofobia e com o Kroma devido aos novos álbums, portanto estarei vendendo os livros nos shows também.

Rockalogy: Parabéns pelo trabalho que vem realizando em nome do Metal nacional, muito obrigada por esta entrevistas.

Alexandre: Natália, muito obrigado pela entrevista. Parabéns pelos seus trabalhos também porque estou acompanhando. Desejo boa sorte!

Confira  o site: http://www.metalbrasileiro.com/

Alexandre de Orio
www.myspace.com/alexandredeorio
www.youtube.com/alexandredeorio
www.myspace.com/claustrofobia
www.myspace.com/kromaquartet
www.quartetokroma.com