21 de setembro de 2011

Cenas Musicais, O underground

Banda Leviaethan/RS Foto: Arquivo pessoal


É comum usarmos o termo “cena” com bastante naturalidade, mas o que estamos querendo dizer de fato quando falamos em “cena Metal” ou “cena underground”? Para tentar vislumbrar estas questões farei uso do texto “Entre os afetos e os mercados culturais: as cenas musicais como formas de mediação dos consumos musicais” de Jeder Janotti e Victor de Almeida, respectivamente, professor e mestrando do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal de Pernambuco, que entre outras atividades, são declaradamente headbangers.

O termo “cena” começou a ser explorado mais largamente por jornalistas “nas décadas de 80 e 90 para conceituar as práticas musicais presentes em determinados espaços urbanos e seus desdobramentos sociais, afetivos econômicos e culturais” (JANOTTI e PIRES, 2011, p.8). Para os autores o conceito de cena foi pensado para abarcar os modos como a música se faz presente nos espaços urbanos.

Mesmo a música fazendo parte de um processo de construção identitária individual, somos nós que decidimos o que ouvir, como ouvir e aonde ouvir; é no espaço urbano que se dá os diferentes modos de materialização do seu consumo e a identificação coletiva (neste sentido há de se considerar a comunidade virtual, que também forma inter-relações de escuta com o que podemos considerar como espaço público).

Por materialização do consumo podemos entender as práticas sociais e econômicas que se constroem a partir de um produto, no caso, uma determinada música, uma banda ou um gênero musical. Se pensarmos em um evento, temos as bandas tocando, os público, o bar, “a roda”, os amigos discutindo sobre música e etc. todas essas práticas fazem parte da materialização do consumo da música, que é quando a música deixa de ser apenas uma escuta passiva no seu fone de ouvido e passa a fazer parte de um processo de identificação e interferência no social.

“A formação de uma cena, local em que também é possível o reconhecer a participação de atores sociais envolvidos na cadeia produtiva da música, desde a sua composição e gravação até o seu consumo final, subentende uma série de implicações. A principal delas é o desenvolvimento social e econômico do espaço urbano, através da formação de um grupo que se “identifica” com a cena e atua na disseminação da informação e conhecimento dentro da cena, forjando redes sociais, afetivas e mercadológicas ao redor de certas práticas musicais.” (JANOTTI e PIRES, 2011, p.12).

A cena de Metal não se organiza como a de Axé ou como a cena de MPB, isso afirma que a lógica da cena é perpassada pelas convenções dos gêneros musicais, sendo o Metal um gênero de características globais, os autores afirmam que essa identificação da cena com o global, se dá a partir nas convenções locais e a forma como ela se afirma mundialmente. A cena do Rio não a mesma que a cena de São Paulo, que não é a mesma de Belo Horizonte, mas todas juntas formam a cena nacional, e a cena nacional compõe a cena global.

“Na verdade podemos supor que o que caracteriza uma cena musical são as interações relacionais entre música, dispositivos midiáticos, atores sociais e o tecido urbano em que a música é consumida.” (JANOTTI e PIRES, 2011, p.20).

Fazer parte de uma cena, portanto, diz respeito não apenas a ir a eventos, ou produzir eventos, mas estar de certa forma ligado ao circuito social, cultural e econômico no qual ela se insere. Gosto de pensar em cena como um organismo, um ecossistema. 

Bibliografia:
"Dez anos a mil: Mídia e Música Popular Massiva em Tempos de Internet"
Janotti Jr, Jeder Silveira; Lima, Tatiana Rodrigues; Pires, Victor de Almeida Nobre (orgs.) – Porto Alegre: Simplíssimo, 2011

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