Rockalogy: Quando e como se deu a formação da banda?
D. Arawn: A minha idéia de formar uma banda veio desde 2005, no começo não era Hatepride, era Graveyard. Eu tinha uma banda de Hard Rock e decidi mudar meu rumo como guitarrista, daí pra frente eu tive um baterista que a gente ensaiava todo dia na casa dele e nós já tínhamos o esboço de Proud and Strong e de outras músicas que viemos a aproveitar vários riffs, mas assim, a cara da banda era mais Black Label Society, tinha um ar Tipe O Negative também que influenciava muito e o Ozzy em um determinado momento. Depois eu me mudei pro Rio, porque eu era de Saquarema e juntei com a galera que eram de parceiros meus desde, sei lá... Bernardo, Old Cesar, é amigo meu desde que eu nasci e quando a gente era moleque nós sempre quisemos ter uma banda, e acho que foi daí que surgiu o Hatepride. Eu peguei a idéia do Graveyard, que era Stoner e transformei no Hatepride, aí eu chamei o Bruno, o João Paulo, só mudou o batera, que era o Lucas Bianna que dava uma cara mais Stoner na banda mesmo, mas aí entrou o Mauro, que foi quem levou a gente pro Thrash.
R: Qual é a proposta do Hatepride?
D: O Hatepride é banda que fala do Brasil, e de todas as pessoas que passam aqui, mas mais focado na nossa Região, o Sudeste, São Paulo e Rio principalmente que tem muito mias noticia de caos.
R: E quanto a sonoridade da banda, você já falou, mas não é uma coisa assim presa a um só estilo?
D: Não, é o que a gente fala de brincadeira que era pra ser “Rock Metal”, nem Black, nem Heavy. Tem pegada de Metal mas é pra soar meio Rock n’Roll, com solo, por exemplo.
R: Vocês gravaram uma demo, a No Green, No Gold, No Star. De quando Foi essa gravação e como se deu a escolha das músicas?
D: Foram quatro músicas, sendo que, a princípio, eram três. Foram essas três porque o Bruno e o Bernardo já sabiam e que são as mais antigas de quando formou o Hatepride. Aí a gente desenrolou com um amigo nosso pra fazer essa gravação num preço legal pra gente, que todo dia saía do trabalho, ia pra lá e ficava até de madrugada, duas ou três vezes por semana. Eu gravei todas as partes de guitarra, a bateria foi gravada primeiro, depois gravou o baixo e por último a voz. Ela tem alguns problemas de mixagem, mas mesmo assim está bem acima da média.
R: Além da demo vocês também tem um vídeo clipe. Como surgiu essa idéia de gravar? Isso influencia muito hoje, devido a popularidade de sites como o You Tube, e isso também é um diferencial frente as outras bandas, que mal tem gravada a sua demo. É muito interessante essa idéia.
D: Na verdade a gente não estava pretendendo fazer um clipe agora, mas aí o Rassan, o cara que gravou a gente, disse que queria fazer um vídeo clipe pra um trabalho dele de uma banda aqui do Rio e perguntou se a gente estava afim. Aí a nós gravamos no carnaval desse ano pra poder gravar. Nós não tínhamos lugar aí o Mauro deu a idéia da gente fazer numa pedreira lá em Irajá, meio que abandonada, usa pra deposito de areia e pedra, aí a gente já chegou lá começou a gravar, num Sol de 45°, tocamos a música 47 vezes (rs). E nós escolhemos essa música porque pra mim é como um hino, foi a primeira musica que eu fiz e a que melhor traduz o que eu quero passar da banda.
R: O último post do Rockalogy é intitulado “Sobrevivência no underground!”. Sabe-se que o Hatepride já conta com certa credibilidade, certo status nessa cena. Porém sabe-se que ainda tem muito a ser conquistado, fale um pouco sobre as dificuldades que a banda enfrenta e outras bandas do underground também, de uma forma geral.
D: Aqui no Rio, pelo menos, a gente procura por lugares que preferencialmente não seja preciso pagar. Quanto a mobilidade é o de menos, o ruim é que você fala com o cara, ele fala que o equipamento tá legal, mas chega na hora tá uma merda, ou então tá até legal, mas aí como você é o ultimo a tocar, ou um dos últimos, na sua hora o equipamento já está todo surrado. Aí o show acaba saindo ruim, embora o som ruim nunca tenha atrapalhado a gente. Nos poucos shows que a gente fez o nosso show acaba sendo foda e som não interfere em coisa nenhuma.
R: Então frente a essas dificuldades que você falou, o que mantém a banda firme nos seus objetivos, querendo dar sequência no trabalho de vocês?
D: A gente sabe que nós temos uma boa banda, e que a gente se garante do que a gente gravou tocar igual, o que já é uma vantagem, porque tem muita banda que grava a demo e chega ao vivo é muito pior do que a gravação. Aí quando acaba o show vem aquela galera que você nunca viu falar, “pô, a banda de vocês foi a melhor da noite, vocês são foda, eu me amarrei”. Porque se eu tô vendo que a galera não está correspondendo ao que eu espero, eu acho melhor parar porque aí eu vou ser como todas essas bandas, que soam todas iguais, eu sei que o Hatepride é diferente e tem se destacado por isso.
R: Outro ponto da sobrevivência no underground e que merece atenção é o “pay to play”, pagar para tocar. Até aonde isso é justo, e em que ponto isso extrapola o ideal comunitário do underground?
D: O cara faz um evento e não quer nem saber se a banda é boa ou ruim, ele quer saber se vai dar gente pra comprar os ingressos, pra ter consumação na casa de show, aí o que acontece, não adianta você ser bom, porque você não vai tocar por isso, vai tocar pra você comprar o show, aí isso acaba atrapalhando a gente, porque somos uma boa banda.
R: Mas então pode-se dizer que todo underground já é assim, que o ideal comunitário que foi falado já não vigora mais?
D: Não, umas exceções, mas nesses casos o enfraquece é o público. O cara vai estar indo porque é de graça, não esta querendo ver a banda, esta indo porque vai ter uma galera que ele conhece, só isso. Se ele esta pagando de uma certa forma, ele vai querer ver a banda, curtir o show, ou então se ele paga é porque tem uma banda que ele gosta, mas aí o lance de pagar fode a banda, porque simplesmente não é a banda que vai receber isso.
R: Não é justo que a banda arque com todo o prejuízo...
D: É, mas infelizmente não adianta nada eu ficar conformado, porque a nossa banda nem sempre pode pagar pra tocar. O underground já não é mais tão underground assim, entende. Era pro underground ser, tipo “ a casa dos fodidos” e não é mais. Tipo assim, pra quem é fodido “vamos ficar no underground, vamos tocar pra galera, ganhar 100 contos por show e tá tudo certo”, pra ganhar uma merreca ou em troca de bebida, mas nem isso tem mais, tá perdendo a fidelidade total a parada.
R: ... tem uma galera que vai só pra ver determinada banda.
D: E outra parada é que o cara que esta fazendo o evento, ele tem que bancar o equipamento, o aluguel da casa, mas eu acho que se não tivessem tantas bandas pra atrapalhar, tanta banda ruim, as bandas boas poderiam segurar o público de uma forma que dê pra pagar o investimento dele com a bilheteria apenas. Só que aí tem uma cara que sempre aluga a casa e faz sempre evento, aí o que acontece; é muita banda diferente tocando naquele evento alí, até confunde a cabeça da galera. Outra coisa que é uma palhaçada que os caras fazem é essa parada no Orkut, “vamos fazer uma votação aqui, a banda que tiver mais voto, vai tocar no evento tal, de graça, sem precisar pagar”, porra, isso é ridículo, porque o cara não quer nem saber, a banda é uma merda, mas o cara fez uma porrada fakes aí votou, ou então pediu pros amigos dele e da irmã dele que já têm milhões de amigos no profile e aí a gente acaba perdendo por causa de babaquice.
Rockalogy: Foi muito proveitoso ver "a quantas anda" o underground. Sem dúvidas há muito ainda o ser pensado e discutido em relação a esse assunto. O Rockalogy agradece pela entrevista e espera que o Hatepride continue firme nessa luta, porque encontrar bandas como a de vocês é cada vez mais difícil. Bandas que não se entregam fácil aos interesses dos produtores e bandas que acreditam na qualidade do seu som, pondo a música em primeiro lugar.
** O Hatepride tem show esse domingo agora, 13.09, no Calabouço, na Tijuca.**
***A banda está ensaiando para a gravação de um álbum ainda sem nome difenido.***