24 de julho de 2012

Seminário Forcaos 2012 – “As Mulheres no Metal”



O seminário aconteceu no dia 21 de julho no auditório do Centro Cultural Banco do Nordeste em Fortaleza/CE. As convidadas a participarem do debate foram: Aline Madelon (CE), vocalista da banda “Kinckers” e proprietária da loja “Metal Fatality” [localizada na galeria do rock no centro de Fortaleza], Marly Cardoso (SP) vocalista da banda de Grindcore “No Sense” do início dos anos 90 em Santos/SP e eu Natália Ribeiro “Rockalogy” (RJ), coordenadora do Movimento Underground Carioca, MUC, editora/produtora do web canal “Metal Busted!” e blog Rockalogy.

O evento é parte da programação do festival Forcaos, que em 2012 teve sua 14ª edição. Além dos seminários e dos shows do Festival em si, teve ainda a “1ª Bicicletada Forcaos”, fazendo o percurso de locais que abrigaram o rock e o heavy metal na cidade de Fortaleza nos anos de 1990 e inicio dos anos 2000, além de ser uma forma de protesto contra a falta de ciclovias e de mobilidade para os ciclistas na cidade. 

Mediado por Abda Medeiros e Mary Pimentel o seminário focou nas diferentes trajetórias das participantes e em como tem sido, até então, as suas relações com a cena Metal. O público considerável para uma ensolarada tarde de sábado na “terra do Sol”, mostrou que os headbangers de Fortaleza se preocupam em participar ativamente e pensar questões relacionadas à cena Metal.

O que se pode concluir do debate é que apesar do Metal ser um gênero majoritariamente masculino; a maioria dos músicos são homens, as bandas de maior destaque são bandas compostas só por homens [neste sentido não é muito diferente de outros gêneros musicais], além das temáticas e de características próprias do Metal como “o peso” a “agressividade”, que são mais facilmente ligadas ao universo masculino; as meninas têm conquistado seu lugar na cena.

O depoimento da Marly Cardoso foi muito importante, pois nos mostrou que nem sempre foi assim, e que esse espaço que temos hoje é fruto de uma evolução e de uma luta. Quando no final dos anos 80, ela formou o No Sense, como vocalista de uma banda de Grindcore [imagine isso na época], com menos de 15 anos de idade, ela tinha de se vestir como um menino, com roupas largas e cabelo raspado na lateral, caso contrário ela não seria “levada a sério” pelos meninos. Se você queria ser considerada na cena como uma headbanger e não como um “caça cabeludo” ou “Maria palheta”, não podia por batom, maquiagem nem salto alto, a vaidade não era bem vinda.

Hoje, mais do que conseguirem seu espaço, podendo expressar a sua feminilidade e serem headbangers ao mesmo tempo, as meninas estão cada vez mais presentes, indo aos shows, montando bandas, trabalhando em iniciativas voltadas para o underground e etc. desta forma adicionando novas visões à cena e ao próprio Metal, trazendo novos elementos, novas sensibilidades, o que só vem para acrescentar, pois o Metal é isso um gênero em constante evolução, em constante mudança.



O resultado do seminário foi tão bom que os homens sentiram-se até um pouco intimidados com a força das mulheres na cena e para o próximo ano querem que o tema seja “Os Homens no Metal”, (rs). Brincadeiras a parte, eu só tenho a agradecer pelo convite e dizer que foi uma honra poder participar, tanto minhas colegas de banca quanto todos da produção do Forcaos são pessoas maravilhosas, batalhadoras e que amam o Metal e a cena underground. Não posso esquecer das pessoas que foram prestigiar e das pessoas que registraram nosso debate e que tanto colaboraram, muito obrigada.

Longa vida ao Forcaos!













O ForCaos no espaço Dragão do Mar



Para mais fotos e mais informações do festival acessar:
http://www.facebook.com/FanForCaos
http://whiplash.net/materias/entrevistas/158876.html

16 de julho de 2012

As Meninas Do Metal_Jeffrey Jensen Arnett, trad. Natália R Ribeiro


As Meninas Do Metal_Jeffrey Jensen Arnett, trad. Natália R Ribeiro




Referência bibliográfica
ARNETT, Jeffrey Jensen _ Metalheads : heavy metal music and adolescent alienation. Boulder: Westview Press, 1996.

Tradução livre feita por Natália Ribeiro editora do blog Rockalogy (rockalogy.blogspot.com), contato ribeironatalia3@hotmail.com


12 de julho de 2012

Levantamento de bandas do Estado do Rio de Janeiro


Foi iniciado ontem o projeto "Levantamento das bandas de Rock e Metal do Estado do Rio de Janeiro por gêneros e cidades" pelo MUC, Movimento Underground Carioca. Buscando um maior um maior conhecimento da cena carioca, conhecendo melhor a sua dimensão e como ela se divide por territórios. É imprescindível que as bandas colaborem enviando seus dados, são apenas 5 perguntinhas básicas.
As informações obtidas serão compartilhadas no blog e podem servir como justificativa, ou argumento em projetos voltados para a área de cultura e produção de eventos por exemplo. Convido a todos que tem banda a participarem, sei que a cena carioca pode bem maior do que imaginamos.

Mais informações: http://movimentoundergroundcarioca.blogspot.com.br/p/levantamento.html

7 de julho de 2012

Heavy Metal e Psicodelia

Judas Priest, 1974

Existe um consenso de que o “marco de criação do Heavy Metal” é o lançamento do “Black Sabbath” primeiro disco, homônimo, da banda Black Sabbath, em 13 de Fevereiro [uma sexta-feira] de 1970. Mas, essa é uma simplificação, que apesar de eficiente, não explica o contexto no qual ele foi sendo desenvolvido. Na verdade a “criação” do Heavy Metal e de qualquer outro gênero musical é parte de um processo.

Deena Weinstein em seu livro “Heavy Metal, The Music and Its Culture” descreve de forma básica a dinâmica desse processo:
“A princípio, o que mais tarde irá se tornar o código do gênero, aparece em canções isoladas. Em seguida, o trabalho de uma banda ou um aglomerado de bandas começa a exemplificar este código. Finalmente, a regra para a geração da música tocada por tais bandas são conscientemente reconhecidas e tornam-se um código para que outros possam emular.” (WEINSTEIN, 1991 p.14)
Logo, as raízes familiares do Metal encontram-se dispersas em diferentes gêneros, como Blues, Rock n’ Roll, Jazz e o que mais tarde ficou conhecido como “Rock Psicodélico” [entre outros]. Influências do rock psicodélico podem ser notadas nos primeiros trabalhos de algumas bandas e artistas que mais tarde foram mais associados ao metal.

Exemplos:

Judas Priest em seu primeiro trabalho "Rocka Rolla" de 1974



Além dos elementos estritamente musicais, reparem nas roupas, na performance de palco. Pouca coisa sobrou do visual, a não ser os cabelos compridos.

Motörhead também no primeiro disco "Motörhead", em 1977



Judas Priest e Motörhead foram influenciados por outros artistas e bandas, que como a autora cita, tinham em suas músicas elementos dispersos do que mais tarde seria conhecido como Heavy Metal.

Jimi Hendrix; elementos influentes musicalmente e em sua performance. A guitarra tem lugar de destaque, o som é virtuoso e poderoso.




Blue Chaeer; "Summertime Blues" do "Vincebus Eruptum", 1968, álbum de estréia da banda. "O volume alto como característica estética da música" (WEINSTEIN, 1991 p.18)





Uriah Heep; "Os vocais são psicodélicos, mas a guitarra e o ritmo são do heavy metal rock inglês" Mike Sauders para a Rolling Stone em 1972




Pink Floyd ( primeiro disco"The Piper at the Gates of Dawn", de 1969); o "art-rock"



Entre outros exemplos que poderiam estar ilustrando esse post.

O Heavy Metal se valeu de práticas, valores e atitudes que caracterizaram a geração Woodstok, "que se apropriou do jeans, da maconha e do cabelo comprido. Colocou os rock stars em pedestais, adotou uma desconfiança na autoridade social e considerou que a música é uma expressão séria e que a autenticidade era uma virtude moral essencial para os músicos de rock" (WEINSTEIN, 1991 p.18)
Assim sendo, o "Rock Psicodélico" foi um elementoimportante [de vários] na formação do Metal como o conhecemos hoje.

Bibliografia: Weinstein, D. (1991) Heavy Metal: The Music and its Culture, New York: De Capo Press.

4 de julho de 2012

A importância das camisas de banda para a cena Metal



A camisa é peça básica do vestuário de praticamente todas as pessoas, homens, mulheres e crianças, de todas as idades*. É comum que sejam estampadas e/ou coloridas e que através delas estejamos representando nosso estilo, nossas identidades, dialogando com os outros de alguma forma. Para a cena Metal e para os headbangers a camisa de banda é como um código, carregado de significados, representando o que eles são para os outros, e os distinguindo entre os do grupo.
**"O Heavy Metal é dividido internamente em um número de subgêneros distintos, definido 'cenas', algumas das quais têm uma relação antagônica à ideia de 'heavy metal' como um mainstream 'institucionalizado' (Harris 2000). No entanto, para os de fora, quase todos os membros dos vários grupos e subgrupos, pode parecer como uma única entidade homogênea, caracterizada por cabelos compridos, jeans, jaquetas de couro preto e camisetas. A camiseta tem um papel fundamental tanto na definição das fronteiras da cultura juvenil para os de fora, assim como um meio de sinalizar diferenciações importantes entre os iniciados.
(BROWN, p.72)"
Assim como ir aos eventos, conhecer as músicas, comprar os CDs, usar uma camisa de banda é uma forma de anunciar seu gosto para os outros, sendo eles de dentro, ou de fora da cena. Usar uma camisa de Metal quer dizer que de alguma forma você compactua com a cena e que desta forma, está declarando sua fidelidade ao estilo musical, daí a comparação que fazem com a ideia de uniforme. Se autoidentificando e indicando seu gosto e aspirações para os outros.

Ser identificado com um headbanger é importante, pois está ligado a ideia de autenticidade/legitimidade dentro da cena. É preciso que você seja reconhecido como um deles para fazer parte. O reconhecimento do grupo tem um valor maior do que o reconhecimento dos que não são do grupo. Não é possível anotar uma hierarquia clara entre os elementos nos diferentes grupos de headbagers, mas também não possível afirmar que ela não exista.

 Exemplo: um recém-chegado com uma camisa do Metallica, provavelmente vai ser visto com mais desconfiança do que um que chegar com a camisa do Kreator, e digamos que ele vai ser quase automaticamente aceito pelo grupo dos Thrashers se chegar com uma camisa do Nuclear Assault. O que isso quer dizer?

É que quanto mais conhecimento subcultural ele tiver [representado a primeira vista pela camisa] mais legitimado ele será pelo grupo, no entanto é preciso conseguir provar esse conhecimento, pois é comum que pessoas que também conheçam as bandas puxem assunto sobre ela. “Conseguir um aceno de aprovação ou sorriso de reconhecimento para a camisa que está vestindo provoca uma sentimento de inclusão e de ‘honra social’ (Weber).” (BROWN, p.75)

Aonde encontrar essas camisas?


Basicamente em lojas do ramo, que são raras nos centros e quase inexistentes em cidades do interior e camelôs para as bandas mais conhecidas, via internet em web stores especializadas e/ou indo a eventos e adquirindo camisetas das bandas diretamente. 

Camisetas oficiais de turnê de bandas “mainstream”, a venda nos shows “grandes” custam de R$ 50,00 a R$ 80,00 em média, o que é muito caro para os padrões brasileiros underground.

Camisetas em lojas do ramo, “rock stores”, Fnac, “web stores” e afins, custam de R$ 25,00 a R$ 50,00. Na internet é possível encontrar camisas com bandas menos conhecidas, no entanto acabam saindo mais caras por conta do valor do frete.

Camelôs, normalmente em algum canto do centro da cidade, custam de R$ 18,00 a R$ 35,00 em média, nem sempre a qualidade da estampa é boa, mas é possível achar algumas muito legais, embora só sejam encontradas bandas com mais apelo na mídia ou mais conhecidas.

Nos eventos, geralmente as bandas cobram de R$ 15,00 a R$ 25,00 por camisa, vale lembrar que embora custem mais barato, essas camisas muitas vezes podem representar um valor subcultural muito maior do que a camisa de uma banda mainstream que custou muito mais caro, pois elas representam um comprometimento maior com a cena. Como são produzidas pelas próprias bandas muitas das vezes, elas carregam um ar de exclusividade, pois não são produzidas em larga escala, e por isso também custam mais barato.

*Considero também nesse hall as baby looks, camisas mais adaptadas ao corpo feminino.

**  "Heavy metal is internally divided into a number of distinct subgenre defined ‘scenes’, some of which have an antagonistic relationship to the idea of ‘heavy metal’ as an ‘institutionalized’ mainstream (Harris 2000). Yet to outsiders, nearly all members of the various subyouth groups can appear as a homogenous entity, characterized by long hair, denims, leather jackets and black t-shirts. The t-shirt plays a key role both in defining the borders of the youth culture to those on the outside and as a means of signaling important differentiations within it to insiders." (BROWN, p.72)*


Bibliografia: BROWN, Andy _ Rethinking the subcultural commodity, The case of heavy metal t-shirt culture(s) in _ Youth cultures : scenes, subcultures and tribes / edited by Paul Hodkinson and Wolfgang Deicke. 2007

Camisa da banda carioca Unmasked Brains
Para adquirir entre em contato http://www.facebook.com/unmaskedbrains