30 de setembro de 2009

Underground também é cultura


Para entender o underground como cultura, primeiro é preciso desfazer alguns enganos provocados pela polissemia da palavra.

Muitos relacionam cultura com grau de escolaridade e/ou cultura de massa, sendo que o termo cultura usado aqui diz respeito ao conjunto de processos sociais de produção, circulação e consumo de significação na vida social.

Dizer que o underground é cultura é reconhecer sua importância como movimento social, na produção de valores e signos, tão importantes na construção da identidade dos jovens quanto para a de toda uma sociedade.

Uma prova da riqueza cultural do underground é a sua diversidade e a capacidade dessas diferenças coexistirem e até mesmo trocarem elementos entre si. Num mesmo evento se apresentam bandas de Hardcore, New Metal, Classic Rock e Heavy Metal, cada uma com suas especificidades.

Tentar decifrar cada um desses signos, assim como listar e descrever essas especificidades é um trabalho árduo e minucioso, essa não é a proposta principal do Rockalogy, que sempre que for necessário o fará da melhor forma possível.

E agora, qual é a sua cultura?

22 de setembro de 2009

Condenados a nostalgia?


Essa tendência das bandas voltarem, Black Sabbath, Led Zeppelin, Judas Priest, Testament, etc. e as novas bandas, aonde elas estão, como elas ficam?

Qual a relação dessa tendência com o underground?

O que vem sendo especulado é que esses “rivivals” possuem um forte apelo econômico, em tempos de decadência da “industria” fonográfica, esse achismo se passa por perdoável. Não se pode negar, porém, que esse é um fator influente, mas é falho vê-lo como determinante.
Estamos passando por um momento de baixa na criatividade, perece que tudo que deveria ser feito, já está pronto, restando à banda, produzir mais do mesmo. Em contra partida a falta de simpatia para com as bandas que se “arriscam” em algo novo parece aumentar.
Nesse contexto entram aquelas bandas que tentam reproduzir determinado estilo, que de certa forma, só foram possíveis pois estavam agindo em determinado momento histórico. Isso faz com que essas bandas acabem limitando sua área de atuação aos fãs dessa sonoridade mais Old School e tornem seus possíveis lançamentos pouco ou nada relevantes.
Para os fãs nada melhor como ter a chance de ver e ouvir grandes clássicos ao vivo, e em muitos casos, com a banda em sua formação original. Bandas do final da década de 70 chegam a unir três gerações num mesmo show. Porque embora essas bandas sejam “antigas”, é visível a renovação de seus fãs.

Mas e quando essas bandas acabarem de fato?

Se não acontecer uma ruptura na ordem vigente, é bem provável que vivamos de nostalgia. Não haverá outro Black Sabbath, outro Judas Priest, simplesmente porque perdemos os meios para reproduzir tais fenômenos. Nesses 30, 40 anos muita coisa mudou e a “receita” foi perdida no tempo.

Como romper com a ordem vigente que rege o mundo do Rock de uma forma em geral?

Talvez a resposta esteja mais perto do que se imagina, mas não por isso menos complexa.
Long Live to Underground!

15 de setembro de 2009

Rock Underground, Uma Etnografia do Rock Alternativo


Livro de Pablo Ornelas Rosa que faz um estudo sobre o movimento underground, usando como campo a cidade de Florianópolis, em Santa Catarina (RS),

Sua leitura viabiliza uma comparação entre a cena de Florianópolis e a cena retratada pelo Rockalogy, a do Rio de Janeiro; mostrando que, o que existe em comum entre esses trabalhos, é justamente a apresentação do underground como forma de cultura, que comporta uma grande variedade de agentes, símbolos e ideologias, embaladas pelas mais diversas vertentes do Rock, e portanto, como movimento de relevância social (muito mal compreendido).


A diferença que existe entre as duas, o fato da cena de lá, ser igual a daqui, e ambas pertencerem ao underground, só reforça o peso cultural e sua expressividade cultural onde quer que a cena se desenvolva.


O livro procura não tratar de um determinado grupo ou vertente específicos, mas na sua leitura fica implícita sua inclinação por um tipo de Rock com elementos mais experimentais, em geral, não tão ligadas ao Heavy Metal, ou à uma sonoridade mais “pesada”. Coisa que num futuro estudo focalizando a cena do Rio de Janeiro, por exemplo, não poderia deixar de ser frisado.


Trabalhos como o de Pablo Ornelas Rosa e do Rockalogy contribuem para o entendimento e compreendimento dessa “forma de expressão”, pelos próprios indivíduos que a compõem e também por pessoas fora desse meio. Pois como foi dito no final do último post, essa falta de entendimento, tanto por quem “está dentro”, quanto por quem “está fora”, faz com que o movimento perca sua força e mesmo a sua identidade.


Pra finalizar o texto dessa semana o Rockalogy gostaria de lembrar a todos que passam por esta página e lêem seu conteúdo que o papel de vocês também é essencial para a manutenção do movimento underground. Esta pagina está aberta a participação de qualquer um esteja disposto a colaborar.

8 de setembro de 2009

Por que não ao underground?


Festival de Rock Humanitário 2009 Evento adiado!

Em função da retirada do apoio da prefeitura de São Pedro da Aldeia ao Festival, fato que se deu de forma covarde após todo o material gráfico, ingressos e mídia da Roadie Crew estarem prontos, o Festival de Rock Humanitário será adiado. Estamos tenhtando viabilizar outra data e local para a realizão do mesmo. Grato, A ORGANIZAÇÃO

http://www.rockemcabofrio.com.br/materia.asp?id=1




Esta nota foi recebida com grande pesar por grande parte do público underground da Região dos Lagos, que fica no Estado do Rio de Janeiro e que abrange mais de 10 municípios, pois é uma região podre de eventos deste porte. O Rock Humanitário é um evento underground, mas com cara de festival, que nas suas últimas edições trouxe bandas de outros Estados e também deu espaço para as bandas locais, trazia também uma boa estrutura e contava com uma boa organização, eram recolhidos quilos de alimentos e era daí que vinha a parte humanitária do evento. Porém, para que um evento deste porte aconteça faz-se necessário um suporte que somente por meio de patrocínio e o apoio da prefeitura é viabilizado.

Como diz a nota, a prefeitura de São Pedro da Aldeia não mais apoiará o evento, dificultando, e muito, a realização de sua quarta edição, essa noticia merece ser destacada porque este não é um fato isolado, muitos eventos são adiados, ou mesmo cancelados por falta de apoio ou por imposição das prefeituras onde acontecem.

Os motivos não são claros, na maioria das vezes não é dada satisfação alguma as pessoas que estão organizando o evento. O que não dá para negar, é o preconceito que se tem em relação aos eventos “de rock”. Se as prefeituras apóiam shows de bandas de forró, de pagode, axé, grupos de funk, festividades e etc. em troca de promover entretenimento, lazer, e levantar o nome da cidade, por que não apoiar também um evento como o Rock Humanitário, que traz consigo todos esses benefícios e promove ainda uma ação humanitária?

Que fique bem claro que a questão levantada aqui não diz respeito somente a este evento que foi usado como exemplo, mesmo porque não foram divulgados os motivos que levaram ao corte do apoio neste caso em especifico, mas o que aconteceu com ele pode acontecer a qualquer evento neste perfil e em cidades como São Pedro da Aldeia.
Uma cidade turística, como a maioria pertencente a Região mencionada, e por isso com maior interesse na realização de eventos que promovem seu nome. Cidades assim costumam dar mais atenção a quem vem de fora, do que quem vive por lá, e talvez seja esse um dos motivos para o desinteresse em promover eventos que tragam menos “turistas”, mas que agradem a população local, que é o caso dos eventos underground.
Entra nessa discussão também o preconceito sobre o publico que supostamente trás esse tipo de evento, “jovens, baderneiros, que degradam os lugares por onde passam, etc.”. É como em qualquer tipo de evento que junte muitas pessoas, vai ter sempre alguém para arrumar confusão, mas a maioria está lá para poder se divertir numa boa.

Desinteresse, descaso, preconceito; seja qual for o real motivo, isso só prova o quanto o Rock, de uma forma geral, inda não é visto com bons olhos, principalmente no que diz respeito ao underground, falta-lhe muito em representação, e é em cima justamente disso que o Rockalogy concentra seus esforços.

2 de setembro de 2009

HATEPRIDE - NEW COMER IN HELL

Apresetação:
A banda começou em 2005, quando D. Arawn (atual guitarrista da banda de Black Metal “Unearthly”) criou o projeto “Graveyards” que no começo era uma banda de Stoner. Em 2008 Diego (D. Arawn) se juntou a João Paulo, Bruno (B. Arawn) e Bernardo (Old Cesar) e juntos trabalharam nas composições dando a elas um estilo mais agressivo, puxado para o Thrash Metal, mas sem perder a essência Rock n’Roll. Com um estilo mais agressivo nós mudamos o no me da banda para Hatepride. “Nossas letras falam da realidade do sudeste brasileiro, tendo como principal tema a violência.” “ Este é o Brasil sem verde, sem ouro e sem estrelas”.

Rockalogy entrevista D. Arawn, guitarrista da banda carioca, Hatepride, e aproveita a oportunidade para saber sua opinião em relação ao unerground.

Rockalogy: Quando e como se deu a formação da banda?

D. Arawn: A minha idéia de formar uma banda veio desde 2005, no começo não era Hatepride, era Graveyard. Eu tinha uma banda de Hard Rock e decidi mudar meu rumo como guitarrista, daí pra frente eu tive um baterista que a gente ensaiava todo dia na casa dele e nós já tínhamos o esboço de Proud and Strong e de outras músicas que viemos a aproveitar vários riffs, mas assim, a cara da banda era mais Black Label Society, tinha um ar Tipe O Negative também que influenciava muito e o Ozzy em um determinado momento. Depois eu me mudei pro Rio, porque eu era de Saquarema e juntei com a galera que eram de parceiros meus desde, sei lá... Bernardo, Old Cesar, é amigo meu desde que eu nasci e quando a gente era moleque nós sempre quisemos ter uma banda, e acho que foi daí que surgiu o Hatepride. Eu peguei a idéia do Graveyard, que era Stoner e transformei no Hatepride, aí eu chamei o Bruno, o João Paulo, só mudou o batera, que era o Lucas Bianna que dava uma cara mais Stoner na banda mesmo, mas aí entrou o Mauro, que foi quem levou a gente pro Thrash.

R: Qual é a proposta do Hatepride?

D: O Hatepride é banda que fala do Brasil, e de todas as pessoas que passam aqui, mas mais focado na nossa Região, o Sudeste, São Paulo e Rio principalmente que tem muito mias noticia de caos.

R: E quanto a sonoridade da banda, você já falou, mas não é uma coisa assim presa a um só estilo?

D: Não, é o que a gente fala de brincadeira que era pra ser “Rock Metal”, nem Black, nem Heavy. Tem pegada de Metal mas é pra soar meio Rock n’Roll, com solo, por exemplo.

R: Vocês gravaram uma demo, a No Green, No Gold, No Star. De quando Foi essa gravação e como se deu a escolha das músicas?

D: Foram quatro músicas, sendo que, a princípio, eram três. Foram essas três porque o Bruno e o Bernardo já sabiam e que são as mais antigas de quando formou o Hatepride. Aí a gente desenrolou com um amigo nosso pra fazer essa gravação num preço legal pra gente, que todo dia saía do trabalho, ia pra lá e ficava até de madrugada, duas ou três vezes por semana. Eu gravei todas as partes de guitarra, a bateria foi gravada primeiro, depois gravou o baixo e por último a voz. Ela tem alguns problemas de mixagem, mas mesmo assim está bem acima da média.

R: Além da demo vocês também tem um vídeo clipe. Como surgiu essa idéia de gravar? Isso influencia muito hoje, devido a popularidade de sites como o You Tube, e isso também é um diferencial frente as outras bandas, que mal tem gravada a sua demo. É muito interessante essa idéia.

D: Na verdade a gente não estava pretendendo fazer um clipe agora, mas aí o Rassan, o cara que gravou a gente, disse que queria fazer um vídeo clipe pra um trabalho dele de uma banda aqui do Rio e perguntou se a gente estava afim. Aí a nós gravamos no carnaval desse ano pra poder gravar. Nós não tínhamos lugar aí o Mauro deu a idéia da gente fazer numa pedreira lá em Irajá, meio que abandonada, usa pra deposito de areia e pedra, aí a gente já chegou lá começou a gravar, num Sol de 45°, tocamos a música 47 vezes (rs). E nós escolhemos essa música porque pra mim é como um hino, foi a primeira musica que eu fiz e a que melhor traduz o que eu quero passar da banda.

R: O último post do Rockalogy é intitulado “Sobrevivência no underground!”. Sabe-se que o Hatepride já conta com certa credibilidade, certo status nessa cena. Porém sabe-se que ainda tem muito a ser conquistado, fale um pouco sobre as dificuldades que a banda enfrenta e outras bandas do underground também, de uma forma geral.

D: Aqui no Rio, pelo menos, a gente procura por lugares que preferencialmente não seja preciso pagar. Quanto a mobilidade é o de menos, o ruim é que você fala com o cara, ele fala que o equipamento tá legal, mas chega na hora tá uma merda, ou então tá até legal, mas aí como você é o ultimo a tocar, ou um dos últimos, na sua hora o equipamento já está todo surrado. Aí o show acaba saindo ruim, embora o som ruim nunca tenha atrapalhado a gente. Nos poucos shows que a gente fez o nosso show acaba sendo foda e som não interfere em coisa nenhuma.

R: Então frente a essas dificuldades que você falou, o que mantém a banda firme nos seus objetivos, querendo dar sequência no trabalho de vocês?

D: A gente sabe que nós temos uma boa banda, e que a gente se garante do que a gente gravou tocar igual, o que já é uma vantagem, porque tem muita banda que grava a demo e chega ao vivo é muito pior do que a gravação. Aí quando acaba o show vem aquela galera que você nunca viu falar, “pô, a banda de vocês foi a melhor da noite, vocês são foda, eu me amarrei”. Porque se eu tô vendo que a galera não está correspondendo ao que eu espero, eu acho melhor parar porque aí eu vou ser como todas essas bandas, que soam todas iguais, eu sei que o Hatepride é diferente e tem se destacado por isso.

R: Outro ponto da sobrevivência no underground e que merece atenção é o “pay to play”, pagar para tocar. Até aonde isso é justo, e em que ponto isso extrapola o ideal comunitário do underground?

D: O cara faz um evento e não quer nem saber se a banda é boa ou ruim, ele quer saber se vai dar gente pra comprar os ingressos, pra ter consumação na casa de show, aí o que acontece, não adianta você ser bom, porque você não vai tocar por isso, vai tocar pra você comprar o show, aí isso acaba atrapalhando a gente, porque somos uma boa banda.

R: Mas então pode-se dizer que todo underground já é assim, que o ideal comunitário que foi falado já não vigora mais?

D: Não, umas exceções, mas nesses casos o enfraquece é o público. O cara vai estar indo porque é de graça, não esta querendo ver a banda, esta indo porque vai ter uma galera que ele conhece, só isso. Se ele esta pagando de uma certa forma, ele vai querer ver a banda, curtir o show, ou então se ele paga é porque tem uma banda que ele gosta, mas aí o lance de pagar fode a banda, porque simplesmente não é a banda que vai receber isso.

R: Não é justo que a banda arque com todo o prejuízo...

D: É, mas infelizmente não adianta nada eu ficar conformado, porque a nossa banda nem sempre pode pagar pra tocar. O underground já não é mais tão underground assim, entende. Era pro underground ser, tipo “ a casa dos fodidos” e não é mais. Tipo assim, pra quem é fodido “vamos ficar no underground, vamos tocar pra galera, ganhar 100 contos por show e tá tudo certo”, pra ganhar uma merreca ou em troca de bebida, mas nem isso tem mais, tá perdendo a fidelidade total a parada.

R: ... tem uma galera que vai só pra ver determinada banda.

D: E outra parada é que o cara que esta fazendo o evento, ele tem que bancar o equipamento, o aluguel da casa, mas eu acho que se não tivessem tantas bandas pra atrapalhar, tanta banda ruim, as bandas boas poderiam segurar o público de uma forma que dê pra pagar o investimento dele com a bilheteria apenas. Só que aí tem uma cara que sempre aluga a casa e faz sempre evento, aí o que acontece; é muita banda diferente tocando naquele evento alí, até confunde a cabeça da galera. Outra coisa que é uma palhaçada que os caras fazem é essa parada no Orkut, “vamos fazer uma votação aqui, a banda que tiver mais voto, vai tocar no evento tal, de graça, sem precisar pagar”, porra, isso é ridículo, porque o cara não quer nem saber, a banda é uma merda, mas o cara fez uma porrada fakes aí votou, ou então pediu pros amigos dele e da irmã dele que já têm milhões de amigos no profile e aí a gente acaba perdendo por causa de babaquice.

Rockalogy: Foi muito proveitoso ver "a quantas anda" o underground. Sem dúvidas há muito ainda o ser pensado e discutido em relação a esse assunto. O Rockalogy agradece pela entrevista e espera que o Hatepride continue firme nessa luta, porque encontrar bandas como a de vocês é cada vez mais difícil. Bandas que não se entregam fácil aos interesses dos produtores e bandas que acreditam na qualidade do seu som, pondo a música em primeiro lugar.


** O Hatepride tem show esse domingo agora, 13.09, no Calabouço, na Tijuca.**
***A banda está ensaiando para a gravação de um álbum ainda sem nome difenido.***